segunda-feira, 15 de junho de 2009

25 de Abril de 1974

Não. Este não é mais um dos já fastidiosos posts, artigos, reportagens e afins que servem todos os anos de elegia ao dia que mudou a sociedade portuguesa quase na totalidade. Repito, quase na totalidade. De facto, este post serve mais como um manifesto contra a mentalidade do povo português. Passados 35 anos de democracia pluripartidária, três décadas e meia depois da queda da ‘velha-senhora’ ainda paira no ar aquela sombra – lugar-comum em romances e em filmes -, que agoira alguém insistentemente. Esse cliché cinematográfico aplica-se ao povo português como se aplica a um filme de Hitchcock ou a um livro de ficção científica.
Trinta e cinco anos depois, continuamos a viver com pequenos Salazares na cabeça. Fala-se mal da religião e, se não nos sentimos mal com isso (culpa de uma educação impregnada de anti-laicismo), são os que nos rodeiam que nos apontam os dedos, quais lápis azuis. Não blasfemarás o teu Deus! Nunca ultrapassámos o trauma da censura e o ‘complexo salazar’ devia constar no dicionário das doenças mentais.
No entanto, vivemos ao lado de um país que esteve tanto tempo quanto nós em ditadura e fico estupefacto quando vejo casamento homossexual, orgulho pela pátria (o futebol não conta) e acima de tudo pela cultura da pátria. Em Portugal, um filme português nunca presta e muitos de nós só o via se nos pagassem para isso. Em Espanha os filmes nacionais estão nos tops. Em Portugal, ler Camões, Eça e Pessoa é um exercício de masoquismo e Nicholas Sparks é um senhor da Literatura. Em Espanha, Cervantes é um herói nacional. Herói lido, diga-se de passagem.
Expostos estes considerandos, ainda que reduzidos, sobre a mentalidade portuguesa, fico estupefacto quando vejo alguém falar mal da política! Como é que uma pessoa que não nutre o mais ínfimo amor pela nação tem o desplante de falar mal de quem a dirige? Como é que alguém que nem sequer sabe quem são os candidatos às europeias pode ousar dizer que são todos uns gatunos, não os conhecendo sequer? Estas perguntas respondem-se com uma só palavra: libertinagem, a condição dos portugueses desde o dia 25 de Abril de 1974. Se é verdade que nos tempos idos da ditadura o povo votava mas não escolhia um representante, hoje em dia nem se digna a votar. Basta ligar a televisão ou abrir um jornal e somos cidadãos activos, cumpridores de todos os deveres.
No programa Os contemporâneos foram deixadas algumas soluções para combater a abstenção de voto. Isto sim levaria a recordes de voto nunca antes vistos.








Adriano Narciso, nº 34026

1 comentário:

  1. De facto, o passatempo do Zé Povinho e a imitação por excelência dos famosos velhos do Restelo. Sempre que há eleições (sejam elas autárquicas, legislativas ou presidenciais) o povo, que tanto crítica os elementos de São Bento, desinteressa-me pelo voto, preferindo os destinos paradisíacos, ou até mesmo beber umas jolas com umas alcagóitas na tasca vizinho do lado. Há quem lhe chame conformismo, outros preferem dizer que o que conduz o povo ao "não voto" é a descrença resultante da bola de neve causada pela promiscuidade governativa - como o nosso excelentíssimo Presidente da República referiu há uns dias de forma um pouco mais elegante.
    Não sei o que dizer, mas uma coisa parece-me coerente: quanto mais liberdade tem, mais o povo se auto-censura, como ficou provado nas europeias.

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